DBF 308 em Rojen, Letônia |
Na batalha do Alto Somme, na França, durante a I Guerra Mundial, a locomotiva militar alemã Brigadier conquistou seu papel na história. Entre julho e novembro de 1916, transportou diariamente 1.500 toneladas de suprimentos para os soldados alemães que estavam em conflito nas trincheiras — o abastecimento era realizado à noite para que os inimigos não pudessem visualizar os trilhos e rastrear o caminho dos vagões de guerra foi desenvolvida a partir de uma idéia sui generis do agricultor francês Paul Decauville, que em 1875 construiu uma estrada de ferro em módulos portáteis e provisórios para o transporte da colheita de beterraba até os depósitos de armazenamento. A ferrovia inovadora chamou a atenção do exército imperial alemão e deu origem a um sistema ferroviário estratégico e adaptado para seguir os soldados em movimento e também alimentar o front de suprimentos em qualquer situação.
DBF 224, Berlim, Alemanha |
No período de 1907 a 1919, empresas alemães construíram para estas ferrovias cerca de 2.750 locomotivas a vapor do tipo Brigadier, conhecidas também como Brigade Lokomotiv Deustcher Feldbahn ou DFB.
“O aspecto marcante dessa locomotiva é a base flexível com quatro rodas de cada lado ou rodagem 0-8-0, onde os eixos dianteiros e traseiros são fixados com grande folga lateral, dando a elas a habilidade de realizar qualquer tipo de curva fechada existente na via”, afirma Sérgio Martire, um dos maiores especialistas em locomotivas a vapor do Brasil e consultor do Projeto Memória Ferroviária.
DFB 915 |
Ele conta que as locomotivas Brigadier chegaram ao Brasil a partir de 1917 como prisioneiras de guerra e três delas foram vendidas para a empresa City de Santos, para o transporte (pela Estrada de Ferro Santos/Jundiaí) de suprimentos da Estação de Cubatão até o sistema de tratamento de águas da cidade de Santos.
DFB 811 |
“Procurei esta locomotiva por quatro anos, até que encontrei uma de prefixo DFB 811, em um ferro velho em Santos. Agora está em reparo, na cidade de Sorocaba”, conta ele, acrescentando que uma outra Brigadier (prefixo DFB 915) foi localizada em São Paulo e está hoje exposta no Parque Municipal de Cubatão. As duas foram fabricadas em 1916 pela empresa Henschel e pertenciam ao Batalhão de Berlim.
DFB 2684 |
Mais três encontram-se no estado de Minas Gerais, uma delas na Estação Ferroviária de Ouro Preto, a de prefixo DFB 2684, construída pela empresa Orestein & Koppel em 1918. “Esta máquina, provavelmente, foi uma das muitas utilizadas nas minas existentes entre as cidades de Mariana e Ouro Preto, fazendo a ligação entre a boca da mina e o sistema de moagem e fixação do ouro”, revela.
Outra que se encontra no Estado de Minas é a Henschel, de 1919 e de prefixo DFB 2574. Estacionada no Museu de São João Del Rey foi utilizada para o embarque de calcário das minas próximas à cidade de Tiradentes até a fábrica de cimento em Barroso (MG). O transporte, realizado em bitola de 600 mm, aconteceu até 1954.
A terceira locomotiva de Minas foi localizada em Sete Lagoas, diz Martire. É uma Linke-Hofmann de 1919 e está no museu ferroviário.
Em Resende (RJ), na Academia Militar de Agulhas Negras, encontra-se a única locomotiva Brigadier pertencente ao Exército Brasileiro. A máquina foi adquirida pelo Batalhão Ferroviário do sul do País, em 1920. De acordo com Martire, “a Viação Férrea Rio Grande do Sul transformou a locomotiva em bitola métrica para ser utilizada nas frentes de trabalho de construção das ferrovias na fronteira do Brasil com o Uruguai”.